Os torcedores aproveitaram a visibilidade do clássico (transmitido ao vivo para 40 países) para fazer uma manifestação em favor da independência da região da Catalunha, que abriga a cidade de Barcelona. Antes de começar o jogo, 98 mil torcedores ergueram cartolinas amarelas e vermelhas, formando a bandeira catalã. Aos 17 minutos e 14 segundos de jogo, os catalães agitaram suas bandeiras e, em uníssono, gritaram: “Independência!”.
A hora marcada para a manifestação é uma referência ao ano em que a nação catalã foi anexada à Espanha (1714). A Catalunha foi obrigada a se render às tropas de Felipe V durante a Guerra de Sucessão Espanhola, que valia o trono do país. A Catalunha perdeu sua chefia de Estado, passando a fazer parte da Espanha, situação que se estende até a atualidade.
A rivalidade esportiva entre Barcelona e Real Madrid está diretamente ligada à questão política. O FC Barcelona foi fundado no dia 29 de novembro de 1899. Nos primeiros anos de 1900, a equipe já era considerada o melhor time de futebol da região da Catalunha. Com a ascensão do ditador Franco ao poder, em 1939, o time foi obrigado a mudar de nome e remover a bandeira catalã de seu escudo. O Futbol Club Barcelona passou a se chamar Club de Fútbol Barcelona, como manda a língua espanhola. Josep Garriga, presidente do time na época, foi assassinado por soldados de Franco em Guadalajara. Foi nesse período que a rivalidade com o Real Madrid começou. Cada time representava uma cidade, uma postura política e uma raiz cultural. O Barcelona representava a região que queria se separar da Espanha; o Real Madrid representava Castela, antigo reino incorporado ao país, e apoiava a unidade da Espanha.
Muito se fala sobre os efeitos na política e na economia mundial em caso da emancipação da Catalunha. A região é a mais economicamente ativa do país, mas, ao mesmo tempo, a que acumula a maior dívida. Por enquanto, tudo são conjecturas. Mas, como começamos o post falando sobre o jogo de ontem, fica uma pergunta: se a Catalunha virar um país, , o que aconteceria com o futebol? Dá para fazermos alguns exercícios de possibilidades:
1. A mais imediata consequência futebolística seria o fim do grande clássico Real x Barça na Liga Espanhola. Como o Barcelona seria um time do país Catalunha, ele não poderia participar do torneio. O Barcelona teria que disputar um nada competitivo Campeonato Catalão. Há 11 times na região. O problema é que a qualidade técnica de equipes como o Girona Futbol Club e o Terrassa FC não chega aos craques das chuteiras de Messi e cia., o que deixaria o campeonato não muito emocionante e bastante previsível.
2. E as seleções? O time da Espanha, que lidera o atual ranking da FIFA, perderia um terço de seu elenco. Dos 22 jogadores chamados na última convocação, oito são de origem catalã. Entre eles, estão os craques Xavi Hernandéz, Cesc Fábregas, Gerard Piqué, Joan Capdevila e Carles Puyol.
3. Quanto à Seleção da Catalunha, ela finalmente seria regulamentada pela FIFA. O time já existe desde 1904, e é hoje treinado pelo ex-craque holandês Johan Cruyff, que foi ídolo com a camisa do Barça. Mas, por não ser reconhecida pela FIFA, a seleção “pirata” só pode jogar partidas internacionais amistosas. Os 8 craques catalães da seleção espanhola costumam marcar presença também no time da Catalunha nos poucos jogos marcados. E, como a seleção não é oficial, de vez em quando atletas estrangeiros são convidados para integrar a equipe. O brasileiro Evaristo de Macedo, que jogou pelo Real Madrid e pelo Barcelona, foi um deles. A seleção da Catalunha e a brasileira já se enfrentaram duas vezes em amistosos. O primeiro foi um empate por 2 x 2 em 1934. Em 2004, os brasileiros derrotaram os catalães por 5 x 2.